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Anjos de jaleco

data-filename="retriever" style="width: 100%;">O ambiente da enfermagem faz parte das minhas memórias de infância, pois a residência de meus pais vizinhava com um grande hospital na minha terra natal. Eu e minhas irmãs, muito crianças ainda, costumávamos entrar de forma sorrateira na ala da maternidade, em busca do berçário. Ficávamos encantadas, na ponta dos pés, olhando os recém-nascidos através de um vidro, identificando meninos e meninas pela cor das mantas que os cobriam.

Os leitores da minha geração certamente lembram de um tradicional quadro, nos corredores dos hospitais, onde uma enfermeira fazia o sinal universal de silêncio com o dedo indicador sobre os lábios. Lembro que, antes de chegar no berçário, passávamos por um desses quadros e eu me sentia vigiada pelo seu olhar firme. O silêncio sugerido pela imagem era absolutamente respeitado por todos os que frequentavam aquele local.

Num verdadeiro contraste a essa lembrança, observei os profissionais de um posto de saúde no enfrentamento do trabalho extremo que a pandemia lhes impõe há mais de um ano. Atrás de suas máscaras e roupas de proteção, percebe-se o esgotamento das suas forças e, ainda assim, o sorriso escondido, somado à palavra gentil e consoladora, sempre se faz presente.

As dramáticas cenas do atendimento às vítimas da Covid-19 têm sido amplamente divulgadas pela mídia e rede social, na busca da sensibilização da população para o resguardo e cuidados necessários nas medidas preventivas. A movimentação frenética dentro das UTIs e nos atendimentos de emergência traduzem o trágico momento que a humanidade enfrenta. Aquelas pessoas paramentadas, lutando contra o cansaço e a própria angústia, através de sua prática profissional arriscam diariamente suas vidas, demonstrando o verdadeiro sentido da solidariedade e do amor ao próximo.

Nem os aplausos que lhes têm sido oferecidos ou as palavras de agradecimento que possam ser ditas são suficientes para recompensar o serviço que está sendo prestado por esses profissionais da saúde. Se nos dias atuais precisamos reunir forças para simplesmente sobreviver e conservar nossa saúde mental, imagino a coragem dessas pessoas, soldados na frente do campo de batalha, que fizeram de suas escolhas profissionais uma verdadeira missão. Gigantes heróis anônimos. Anjos da guarda da humanidade.

Todos nós temos um encontro marcado com esses profissionais, recebendo de suas mãos a vacina salvadora. Esse momento tem o mesmo sentido da Páscoa que se aproxima, pois traz a renovação da esperança e da preservação da vida. É um momento de alegria e emoção que merece ser celebrado junto a esses anjos de jaleco. Proponho que nossa gratidão seja materializada também por pequenos mimos como flores, cartões, bombons e outros agrados a serem oferecidos para a equipe que nos atender.

Imagino em cada posto de vacinação aquele quadro da enfermeira vigilante. Sua expressão séria e o gesto simbólico traduzindo a clara mensagem daquele importante momento: "Silêncio, vidas estão sendo salvas".

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